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Entrevista

com Paulo Gonella

Qual foi a emoção em ter seu nome associado à descoberta de uma das espécies mais interessantes e importantes de todas plantas carnívoras, a Drosera Magnifica?

Paulo:  Sem dúvida foi uma grande descoberta em vários sentidos e um momento que sempre será bastante especial pra mim. A Drosera magnifica é a maior espécie do gênero das Américas e talvez do mundo e foi descoberta de uma forma bastante inusitada, pelo Facebook.

Apesar da grande repercussão nacional e internacional, o mais  gratificante foi ver que a notícia chegou à cidade onde ela foi descoberta e despertou o interesse das pessoas em preservar a serra onde essa espécie  ocorre, que é o único lugar do mundo onde ela é encontrada. Por conta dessa repercussão, hoje

existe uma iniciativa para tornar o lugar um Parque Estadual, para proteger essa e outras várias espécies, algumas delas ainda desconhecidas para a ciência.

Quantas plantas carnívoras existem hoje nativas do Brasil?

Paulo:  Atualmente, existem 128 espécies de plantas carnívoras catalogadas no Brasil. São 31 espécies de Drosera, 64 espécies de Utricularia, 18 espécies de Genlisea, 7 espécies de Philcoxia, 5 espécies de Heliamphora e 3 espécies de bromélias carnívoras (Catopsis berteroniana, Brocchinia reducta e Brocchinia hechtioides).

Em sua opinião, quais são os aspectos positivos e os negativos do cultivo de plantas carnívoras?

Paulo:  Os aspectos positivos são vários, como o contato direto com as plantas e a natureza, algo cada vez mais raro em nossa sociedade cada vez mais urbana. É bastante gratificante acompanhar o desenvolvimento das plantas, ver a formação das armadilhas, a floração das plantas, e além de tudo, é uma atividade relaxante e que ajuda a amenizar o estresse do dia a dia.

Sobre aspectos negativos, é difícil apontar algum. Mas diria que um ponto complicado é o tempo demandado para o cuidado das plantas quando temos uma coleção muito grande e com plantas com exigências muito diferentes. Não é possível cultivar Sarracenia, Nepenthes e Pinguicula mexicanas com sucesso nas mesmas condições, por exemplo. Elas tem exigências bem diferentes de luz, água e substrato. Por conta disso, acabei focando minha coleção nas Pinguiculas, que se dão muito bem com as orquídeas que também cultivo.

Em relação às próximas gerações e ao futuro do cultivo, qual sua expectativa? 
Paulo:  Tenho visto uma evolução muito rápida no cultivo de carnívoras aqui no Brasil, com cada vez mais espécies e cultivares em cultivo e também mais produtores e vendedores. Quando comecei a cultivar essas plantas, o mercado era bem mais limitado, bem como o número de espécies disponíveis no Brasil. Acredito que um próximo passo seria uma maior organização dos cultivadores com a criação de uma sociedade, que visasse a troca de experiências e a divulgação do cultivo, através de cursos e exposições, por exemplo.

Agradecemos a colaboração do Paulo Gonella e que possamos contribuir com o descobrimento e preservação consciente da flora, tornando esse hobby, cada vez mais informativo e interessante!

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PAULO GONELLA

É bastante gratificante 

acompanhar o
desenvolvimento das
plantas, ver a formação
das armadilhas, sua
floração e, além de tudo,
é uma atividade relaxante
e que ajuda a amenizar
o estresse do
dia a dia.

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ENTREVISTA


Recebemos em nossa loja, com grande satisfação e exclusividade, o biólogo Paulo Gonella, que num bate papo leve e descontraído, nos contou, além

de suas principais descobertas e pesquisas, um pouco mais de sua vida e de sua carreira.

 28 de julho de 2018

Paulo Gonella é biólogo, mestre e doutor em Botânica formado pela USP.  Publicou diversos artigos científicos, incluindo espécies novas de carnívoras do Brasil e outros países da América do Sul.


Conte-nos, como começou seu interesse pelas plantas e como chegou às plantas carnívoras?
Paulo:  Tudo começou quando eu tinha 8 anos. Lembro que meus pais me levaram a uma psicóloga pois estava com mal rendimento na escola por conta de déficit de atenção. A psicóloga viu meu interesse pela natureza e pelas plantas e me recomendou entrar em contato com uma sociedade de orquidófilos, que tem na minha cidade (São Carlos-SP). Meus pais me levaram numa reunião dessa sociedade e eu me apaixonei pelas orquídeas. Logo comecei a cultivar as minhas próprias orquídeas e a participar de exposições, onde sempre tem
barracas de vendedores de orquídeas e outras plantas. Até que, um dia, numa dessas exposições tinha uma barraca com um vendedor de carnívoras (que hoje nem existe mais e chamava-se Hungry Plants), do qual adquiri minhas primeiras
Dionaeas, Sarracenias e Nepenthes. Eu devia ter uns 12 anos na época. A partir daí, comecei a dividir minha atenção entre as carnívoras e orquídeas, principalmente.

Qual foi a primeira espécie vegetal que descobriu?​
Paulo:  A primeira planta que descrevi foi a

Drosera quartzicola, descrita em 2011, em parceria

com o Fernando Rivadavia, outro grande especialista

em plantas carnívoras. Essa espécie é, na minha

opinião, uma das carnívoras brasileiras mais bonitas,

graças às suas cores e ao seu habitat bastante peculiar. 
Essa espécie é, também, talvez a Drosera brasileira

mais ameaçada por conta da reduzida quantidade de

plantas existentes na natureza. Em cultivo ela é uma

ilustre desconhecida, devido à sua raridade e

dificuldade de cultivo. 
Além dessa, também descrevi até o momento outras

6 espécies de Drosera, 3 de Genlisea e 1 de Utricularia, que deve ser publicada ainda esse ano.​

Que momento foi o mais inusitado até agora em sua carreira?
Paulo:  Sem dúvida foi o dia em que eu vi a foto de uma Drosera desconhecida no Facebook, em 2013. Essa foto veio a ser o primeiro registro da Drosera magnifica, publicada em 2015 e, sem dúvidas, uma das maiores descobertas botânicas do Brasil nos últimos tempos. Uma história já contada várias vezes.
Mas, outro momento bastante inusitado que gosto de lembrar e cuja história é menos conhecida foi a descoberta da verdadeira Drosera ascendens, que ficou no esquecimento por quase 200 anos. 
Por muito tempo, as plantas em cultivo que se assemelhavam a Drosera villosa, mas tinham folhas mais compactas eram chamadas de Drosera ascendens, uma espécie que foi descrita cerca de 200 anos atrás pelo naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire.

Tudo mudou em 2011, quando foram publicadas fotos de uma planta bastante estranha, com hastes florais curvadas e cheias de pelos glandulares vermelhos, da região de Diamantina (MG) num fórum de discussão na internet (o Plantas Carnívoras BR). A princípio, achamos que essa seria uma espécie nova, uma vez que nunca tínhamos visto nada igual a ela. Mas, um trabalho de investigação, incluindo o estudo das plantas coletadas por Saint-Hilaire e preservadas no Museu de História Natural de Paris, revelou que essa planta era, na verdade, a legítima Drosera ascendens, a qual não era vista desde que Saint-Hilaire a descreveu em 1824. 
Mas, se essa era D. ascendens, então quem era a planta comum em cultivo e que ocorre de Santa Catarina até Minas Gerais? Mais uma vez, uma investigação revelou que essa planta já tinha um nome: Drosera villosa var. latifolia. No entanto, ela é bastante diferente da verdadeira D. villosa, portanto, não fazia sentido mantê-la como uma variedade dessa espécie. Sendo assim, a variedade foi elevada ao status de espécie, e hoje é conhecida como Drosera latifolia.​​

Paulo em visita à Escultura Viva

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